Innocent child por Arcana

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Visitação II

A colônia ficava bem distante de onde estávamos. Carregar aquela pequena alma era fácil. Nunca havia estado tão perto de uma daquelas criações da Luz e agora, em contato com aquela criança não conseguia deixar de perceber as agitadas impressões mentais e emocionais gravadas em sua matriz energética. Via as cenas caóticas de suas muitas idas e vindas entre os planos. Havia muitos momentos tristes e muitos medos registrados... E muitos desejos também... Desejos tão simples como a companhia de alguém ou um simples prato de comida numa vida experimentada com muita solidão, muita carestia e a indiferença de seus iguais por seus sofrimentos! Por fim uma morte dolorosa provocada por uma doença. Agora eu entendia porque ela havia se matado...

Eu já havia observado esse planeta Terra a partir da fronteira de nosso Mundo Sombrio. Conhecia as estranhas fantasias que os seres humanos cultivam para suportarem estar naquele planeta!

Eles olham para seus campos floridos, suas matas e florestas e vêem uma beleza e harmonia que não existe ali. Se observassem com mais atenção e cuidado veriam as formas de vida em todos os lugares daquele planeta envolvidas em uma perpétua batalha para se manterem vivas. Uma guerra continuada e silenciosa onde cada um lança mão de artifícios os mais insidiosos possíveis para matar outras formas de vida e delas se alimentarem! Os próprios humanos vivem da morte de outras vidas, muitas delas criadas e cultivadas por eles com esse único propósito. Se eles prestassem mais atenção, veriam que até mesmo as plantas lutam entre si pela sobrevivência. Como chamar tal campo de batalha sangrento de harmonioso e belo?!

Essa alma em meus braços havia experimentado tanto sofrimento em suas passagens por aquele planeta Terra! Então, por que ela sempre voltava para aquele estranho mundo tão cheio de limitações e de dor?! Por que não ir para outro planeta? Nós vemos todos os mundos daqui das fronteiras de nosso reino e sabemos que nos outros mundos a vida não está em guerra permanente consigo mesma.

Eram essas as reflexões que eu fazia quando chegamos próximos de uma das muitas colônias que nossa Mãe Sombria permitiu que fossem construídas para abrigarem essas almas perdidas de si mesmas. Uma estranha construção essa colônia. Uma síntese dos medos que essas almas têm de nosso mundo sombrio. Medos que deram a esse abrigo a forma de uma cidadela cercada por um alto muro com suas torres de vigilância.

Deixei a pequena alma próxima a uma das entradas da colônia. Dei-lhe um pequeno toque energético para que despertasse e me afastei para as sombras próximas para observar.

Ela acordou atordoada pelo longo contato com minhas energias. Mas antes mesmo de recuperar totalmente a lucidez, vendo as portas no muro da cidadela já começou a pedir por ajuda. Ah, os excessos nesses momentos de desespero destas almas. Por que elas têm de ser tão barulhentas?!

A porta foi aberta. Curiosas e cautelosas algumas almas foram saindo.

- Cuidado vocês aí! Um demônio foi visto rondando por aqui faz pouco tempo!

Então eles me viram quando eu procurava pelo melhor lugar para deixar aquela criança! Bem, ela agora era problemas deles e eu estava ansiosa para voltar o mais rápido possível para o silêncio de minha casa, silêncio só quebrado pelo leve sussurrar do vento nas árvores negras ou pelo som das músicas suaves de minha flauta... Aliás, todo esse episódio me tinha inspirado a...

- Isso tudo pode ser uma armadilha! O demônio pode ter se disfarçado nessa menina!

O que?

- Não se preocupe Elias! Nosso Senhor nos protege e se ela for mesmo um demônio nós vamos descobrir...

O que eles estavam fazendo?! Voltei-me para a cidadela e me surpreendi com a cena, a criança apavorada, jogada no chão com a maior das almas que estavam ali, um homem enorme, ajoelhado em suas costas enquanto outros se colocavam ao redor dela apontando estranhos objetos em sua direção.


A idéia de entrar em contato com aqueles humanos não me agradava nem um pouco. Mas eu havia colocado aquela menina naquela situação e sua matriz energética era tão delicada que eles poderiam acabar com ela facilmente. Afinal, ao contrário do que os orientadores espirituais ensinam a seus adeptos, uma alma pode sim ser destruída e eu não iria permitir que isso acontecesse àquela alma frágil.  

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