Innocent child por Arcana

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Ode à Melancolia


I
Não, não, não irás ao Lete, nem misturarás
um acônito, bem enraizado, como poderoso vinho de Proserpina
Não farás teu rosário de bolotas,
nem deixarás o besouro, nem a esfinge da morte ser
Sua pesarosa psique, nem a felpuda coruja
Uma parceira nos mistérios de seus infortúnios
Pois sombra à sombra tornar-se-á demasiado indolente
E afogará a grande angústia da alma





II
Mas quando a melancolia cair
Súbita como uma nuvem em pranto no céu
Que cabisbaixas flores vem nutrir
E esconder a verde colina em abrilino véu;
Sacia-te então em uma rosa matinal,
Ou em uma arco-íris da duna salina
Ou na riqueza das abauladas peônias;
Ou se tua amante temível fúria mostrar
Envolva-lhe as macias mãos e deixe-a enfurecer-se
E olhes bem fundo , bem fundo em seus olhos exóticos

III
Ela habita em Beleza — Beleza que deve morrer;
E júbilo, cujas mãos traz sempre sobre os lábios
Dando adeus e um tormentoso prazer terminal,
Transformando em veneno, enquanto a abelha sorve;
Sim, no mesmo templo do deleite
A velada melancolia tem seu soberano santuário,
Embora visto que ninguém a salvou, cuja língua vigorosa
Pode explodir as uvas da Alegria contra seu pálato;
Sua alma deverá provar da tristeza de seu poder
E entre seus obnubilados troféus se erguer.


John Keats -

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

E nós, que somos vistos dançando, somos chamados de loucos pelos que não podem ouvir a música! 
(autor desconhecido - releitura)


Eu sou a mentira vivendo por você, para que você possa se esconder!  (amy lee)




quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
No fundo de uma cripta em mármore lavrada
Quando tiveres só por alcova e morada
O vazio abismal de carneira chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa
E teus flancos a arfar de exaustão encantada,
Mudar teu coração numa furna calada
Amarrando-te os pés na rota aventurosa,

 A tumba, confidente do sonho infinito
(Pois toda a vida na tumba há de entender o poeta),
Pela noite imortal onde o sono é prescrito,


Te dirá: "De que serve, hetaira incompleta, 
Não teres conhecido o que choram os mortos?"
E os vermes te roerão assim como os remorsos.

- Charles Baudelaire - 

domingo, 1 de junho de 2014

"querida, quando tu fores,
deixando o mundo das dores,
dormir um sono sem fim,
buscarei tua sepultura,
e, tateando a cova escura,
eu irei cingir-te a mim.

e abraço e beijo-te amada,
e tu serena e gelada,
e branca como a cecém;
e, no fervor do meu pranto,
eu te aperto tanto e tanto
que fico morto também.

meia-noite soa quando
os defuntos vão saltando
dos sepulcros em tropel;
e ficamos abraçados,
bem juntinhos, estreitados,
no teu frio mausoléu.

vão-se todos, de repente,
porque deus onipotente
neste instante os vai julgar;
eu, porém, que só contigo
terei o prêmio ou o castigo,
ficarei no meu lugar." 

H Heine - Lied XXXII

terça-feira, 20 de maio de 2014

Melancolia

Ah Melancolia, minha eterna amante e força negra da minha alma! Dia escuro e chuva fria num mundo de eterno entardecer. Nosso mundo, meu lar e nosso reencontro! A alegria de finalmente poder dizer: morri! Nenhum som aqui, nunca! Nenhum movimento que não os de minha alma junto das criações humanas espalhadas a teus pés, para deleite do teu desprezo. Olhe para elas Senhora, o orgulho de deuses que nunca fomos! Quanta faina nessas criações! Um piscar do Tempo e onde elas estão agora? Quantas tolices falam da Senhora, minha bela companheira! Teus lábios nos meus e mergulho na perdição de mim mesma! Onde está a luz que diziam brilhar em cada alma? É tão escuro aqui! Um pensamento descuidado nos fez! O esquecimento é meu destino junto a ti, Senhora. Não me mande para lá novamente, meus pecados já foram perdoados e o ceifador demorou demais para chegar! 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Livro que amo!

Quando vi este livro,uma certeza: somente um portador da Síndrome do Estrangeiro poderia pensar num título assim!

Vi uma foto do autor. Como nossos olhos nos entregam!


Peço. Chega o livro. Demora? O Tempo nunca é para quem tem a sest.


As primeiras palavras: 


"- voltado para mim, irei perdido pelas trilhas escuras de mim mesmo até imaginar o outro, e sê-lo neste passeio inútil, sem ter sido aquele outro eu mesmo, mas eu mesmo sei que pedalo para o atropelo".


Perfeito! Não pertencer a Lugar algum! Não importa onde a alma vá, ela nunca está! 


Do Limiar pode-se olhar para todos os lugares.


Sonhadores de mundos, os habitantes do Limiar.


Afinal, alguém tem de sonhar o Universo para que as filhas e filhos de outros deuses tenham onde estar. 


Mundos para outros, nunca para si próprios. 


Sempre vivendo no Limiar, no silêncio dos não-mundos, onde a Luz com suas mentiras jamais entrará!


Mas... e se uma sonhadora um dia encontrar-se com seu próprio sonho?...