Innocent child por Arcana

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Visitação I

No primeiro momento não foi por bondade, mas sim para silenciar o grito sem fim daquela alma que vagava tão próxima de minha casa. "Bondosa Mãe Sombria, a cada dia elas tomam mais espaço em nosso reino... Até quando isso?!". 

A pequena sombra corria desvairada, tomada pelo medo de meus animais de estimação. Veio em minha direção quando me viu, talvez por imaginar-me sua igual e vendo nisso uma forma de se proteger.

- Calma criança, meu bichinhos só querem brincar com você! - Ela se agarrou a mim antes mesmo que eu terminasse de falar. Tremia, chorava, tentava falar alguma coisa, quando me olhou nos olhos.

"Ah, mais gritos não!" - com um toque a deixei inconsciente. "Por que nossos olhos negros assustam tanto essas criaturas?!". Observei-a com cuidado. Era muito jovem ainda e pelas marcas que sua alma trazia, ela havia destruído o próprio corpo cortando as veias em seus braços! Aprofundei minha percepção: seu corpo havia sido atingido por um grave desequilíbrio energético, uma doença, e que iria lhe causar grande sofrimento. Ela decidiu não passar por isso e resolveu o problema a sua maneira. 

Corajosa a moça! Ainda mais considerando toda a doutrinação contrária que os orientadores espirituais daquele estranho mundo impõem a seus seguidores para que suportem os maiores sofrimentos em seus corpos. Tudo em nome de um Deus indiferente e de um ideal de purificação sem lógica alguma. 

Por que isso? Por que a humanidade não percebe o óbvio: se o sofrimento melhorasse as pessoas,se as tornasse mais lúcidas,a humanidade seria bem diferente do que é, já que sofrer é o que os humanos mais tem feito desde o início de sua caminhada na Terra.

Por isso meu desprezo pelas pessoas daquele planeta. São obtusas demais! Os fatos mais óbvios não conseguem transpor as barreiras de sua ignorância. Mas sempre respeitei a coragem e aquela criança em meus braços era definitivamente corajosa! Não estivesse sua alma corrompida pelo medo e pela culpa, frutos das mentiras que seus orientadores espirituais lhe ensinaram, e ela poderia ter se dirigido a uma das cidadelas Luminosas que tanto atraem as almas daquele planeta Terra.

Mas seus medos e culpas a trouxeram até nós... só me restava leva-la até uma das colônias que a humanidade tem construído em nosso Reino sem Luz para que seus iguais cuidassem dela. Isso não é algo que eu tenha feito antes. Não gosto dessas almas Luminosas e procuro me manter distante delas, mas essa criança havia chegado até mim, havia avançado muito além das fronteiras de nosso Mundo Sombrio. E ela era frágil, muito frágil, sua matriz energética incrivelmente delicada e era muito corajosa... Decidi ajudá-la. 

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